sábado, 19 de dezembro de 2009

Inocência


Entrei de férias mais cedo do que gostaria, mas mesmo assim serão bem aproveitadas. Ainda tenho aquela inocência de pensar que vou fazer tudo que planejei fazer durante o ano e não tive tempo. Com certeza não farei metade.

Aliás, inocência é algo que me remete à infância. Claro, é nessa época que se conserva essa joia preciosa que nos faz entrar em cada roubada, crescer com o tombo e dar risada depois. Como aquele vídeo [1] em que uma bola de beisebol cai no colo de um torcedor que a entrega para sua filhinha e ela a joga inocentemente de volta. O pai entra em desespero, mas abraça a menina. Ta bom que o pai fica com uma cara de idiota por um momento, mas é bonito. Ele ganha a bola depois.

Também já dei uma dessas. Lembro-me, vagamente é claro, de que lá pelos meus oito ou dez anos de idade, minha família fomos à Parati. Minhas lembranças são de uma cidade histórica (embora fosse descobrir o que era isso bem mais velho), cujas ruas são de paralelepípedos (isso eu sabia, gostava de palavras grandes e complicadas) e cujo café, segundo uma amigo do meu pai, custa os olhos da cara. Eu olhava essa última informação com dúvida e certo receio, imaginando onde mais havia olhos para fala ter que frisar que eram da face e porque alguém se sujeitaria a trocá-los por uma xícara de café, “deviam ser muito bons”, pensava eu. O receio veio quando me ofereceram experimentar o café, apesar de querer esse néctar tão valioso, eu adorava enxergar e não me valiam os olhos. Mas isso não foi o ápice de minha inocência. Eis que, em frente a esse café, havia um mapa (sempre gostei de saber onde estava) da cidade com uma enorme seta apontando para uma esquina com um escrito em letras garrafais “você está aqui”. Não me contive e perguntei logo: “como eles sabem que eu to aqui?”, imaginando que havia pessoas me bisbilhotando e trocando a setinha de lugar a cada passo que eu dava, o meu pai desmentiu pacientemente.

Mas nem sempre ele foi assim tão bonzinho. Certa vez, um pouco mais velho, mas ainda muito inocente, estava com meu pai por uma estrada à noite e, observando o acender daquelas luzinhas que sinalizavam por onde passávamos, perguntei com funcionavam. Fanfarrão, respondeu-me que havia uma pessoa em uma central que fazia o trabalho de acender e apagar como faziam os acendedores de lampiões nas ruas antigamente. Sinceramente ri muito quando descobri que isso era um absurdo.

Já passei muita vergonha por ser inocente. Uma vez, na escola, onde eu era considerado nerd (com razão), perguntaram-me sobre masturbação, lógico que não nesses termos. Eu não sabia o que era e não queria admitir isso. Então aconteceu aquela cena semelhante a do Ross em Friends. Eu falava pra mim: “fala qualquer coisa, qualquer coisa serve, qualquer mesmo”. Então respondi: “Meu irmão me explicou o que era, mas não lembro direito”. Que vergonha eu, aquele jovem Padawan, passei na hora. Contudo, fico feliz de saber que conservei minha inocência o máximo que pude.

No entanto, nem sempre ela me foi tão risível assim. Certa vez fui inocente e traído, não sei se me foi inocência ou meu hábito de confiar nas pessoas de quem gosto, ou se são sinônimos. Sei que ganhei um par de chifres na cabeça. Hoje os deixo esquecidos em casa. Não que estejam fora de moda, muito pelo contrário, mas não combinam nem um pouco comigo.

Evidentemente hoje não tenho bobas inocências assim. Apanhei e aprendi. Como diria um sábio amigo que vos escreve aqui também “inocência é como cabaço, se você perdeu, não recupera mais”. Mestre Yoda não falaria melhor, só mais embaralhado.

Para finalizar, eu pego emprestado uma belíssima frase de uma música [2] de igual beleza, hoje eu “só acredito no semáforo, só acredito no avião, acredito no relógio, só acredito no coração”. Menino inocente, não?

=D

PS –

[1] – Assista em http://www.youtube.com/watch?v=7Vl3fph8uzw

[2] – A música se chama Semáforo da banda Vanguart

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